Velha infância

Fui uma criança que freqüentou jardim-de-infância, tomou banho de rio, andou em boléia de caminhão, vi Perdidos no Espaço, andou sem cinto de segurança, lembro de uma vacina que eu tomei antes de entrar na escola, bebia sangria no almoço (vinho com água e açúcar), esperava os adultos falarem e meu pai só precisava me olhar para eu entender.

Para dor de ouvido, óleo quente, para tosse, mel e limão. Tive caxumba, sarampo, catapora, nunca tive virose. Se apanhava (o que era raríssimo), não pensava em ligar para o Conselho Tutelar.

Não tive período de adaptação a nenhum momento de minha vida escolar. Roupas e sapatos eram bens duráveis e passavam do mais velho para os mais novos, livros eram tesouros que brilhavam na biblioteca, o móvel mais lindo e de destaque da casa. Lia tudo que chegava, através da Barsa, ou do Círculo do Livro, das compras na Livraria do Globo, sem separações de faixas etárias. Brinquedos eram pedidos e chegavam em datas certas: dia das crianças e natal.

Famílias moravam na mesma cidade, podia transitar entre a casa dos avós e dos tios.

Fui uma criança muito feliz. Brinquei com meus irmãos e primos, em pátios, em casa, no campo.

A minha velha infância inspira minha caminhada, dá idéias de Peter Pan, Mary Poppins, Emília e de Pollyanna......