quinta-feira, outubro 12, 2006

guardando outras infâncias


Chegou o momento de dividir o espaço com as pessoas que também guardam, criam e lembram de suas e de outras infâncias.
A Ruth é a primeira e não será a única, mas sua passagem é especial, mostra o quanto as formas como somos tratados em nossa infância deixam a marca e significação para nossa vida adulta.
O criandoinfâncias é partilha e guarda, é apego e transição.

Adoção Afetiva

Da minha percepção de ser uma estranha no ninho, das minhas fantasias negativas, acalentadas silenciosamente, a respeito das diferenças das relações afetivas existentes na minha família, surgiu, há muito, a minha identificação com a adoção.
A primeira vez que o tema adoção entrou na minha vida foi pela necessidade da minha irmã mais velha definir qual era o meu espaço na família: “Você foi achada na lata do lixo. Você não é filha da mãe, você é adotada!!!”. Bem, não foi uma forma simpática de tomar contato com este tema. Mas foi uma forma eficaz da minha irmã jogar o veneno da dúvida e da competição de quem era mais ou menos amada em casa, já que ela partiu da idéia – equivocada – de que o filho adotivo é menos importante aos pais que o filho biológico. Ou da falta de percepção que entregar seu filho para outrem cuidar, possa ser um único e grande ato de amor das pessoas que geraram uma criança.
Passei muito tempo alimentando sentimentos de menos valia a partir deste veneno fraternal. Minha avó foi fundamental quando, ao perguntar a ela se esta história era verdade, ela me levou ao seu quarto, e me colocou diante do espelho: “Olha bem para você”. Em seguida me mostrou a foto da minha mãe quando tinha mais ou menos minha idade, que estava num quadro na parede e disse: “Você é igualzinha à sua mãe quando ela era pequena, cópia uma da outra, você é filha dela sim!!”. Que alívio!!!
Que grande equívoco imaginar que os laços biológicos definem o amor que pode existir entre pais e filhos! Esta é uma ilusão que permite muita indiferença afetiva quando os pais não percebem que não basta gerar seus filhos, é necessário sempre, a partir da via afetiva, toma-los nos braços e cuidar, adotar, efetivamente esta criança, o que inclui criar laços relacionais profundos, que sem dúvidas, são construídos e não dados, como os são os genéticos. TODA CRIANÇA PRECISA DE ADOÇÃO!
Rute Rodrigues
Psicóloga, Terapeuta de Família, Facilitadora do Ter-na Adoção Jr.
www.ternaadocao.com.br

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