sábado, janeiro 06, 2007

hiperatividade

Creio na falta de espaço e oportunidades, no pouco tempo para brincar. Creio no chá de cidró e camomila, na Rita Lee e muito pouco na Ritalina. Creio na falta de criatividade e esforço adulto para ouvir, acolher e conviver. Creio na falta de tempo, de paciência, de vontade para criar novas possibilidades dentro do espaço urbano, da sala-de-aula, do play-ground, da sala de "estar" em casa, para as crianças, para os alunos, para os filhos.
Creio na hiperatividade como uma boa desculpa para medicalizar, justificar e empurrar para frente o agora. Creio na hiperatividade como o retrato da frustração frente ao filho que não cumpriu com o idealizado, frente ao cidadão não domesticado. Muito antes do Hiperativo, em um tempo em que estas crianças eram tratadas por outros nomes e por outras forma "terapêuticas", existiu um homem, uma alma sensível, que deixou este e outros olhares afinados com a infância:
" Mal entra ela na vida é já é caçador.Caça os espíritos cujos vestígios fareja nas coisas; entre espíritos e coisas transcorrem-lhe anos, durante os quais o seu campo visual permanece livre de seres humanos. Sucede-lhe como em sonhos: ela não conhece nada de permanente; tudo lhe acontece, pensa ela, vem ao seu encontro, se passa com ela. Os seus anos de nômade são horas passadas na floresta de sonhos.
De lá ela arrasta a presa para casa, para limpá-la, consolidá-la, desenfeitiçá-la.Suas gavetas precisam transformar-se em arsenal e zoológico, museu policial e cripta. " Por em ordem significaria aniquilar uma obra repleta de castanhas espinhosas, que são as clavas medievais, papéis de estanho, uma mina de prata, os ataúdes, cactos, as árvores totêmicas e moedas de cobre, que são os escudos. A criança já ajuda há muito tempo no armário de roupas da mãe, na biblioteca do pai, enquanto no próprio território continua sendo o hóspede mais instável e belicoso." Benjamin, Walter-2002p.107.

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