Quando ganha seu primeiro salto alto aos cinco anos, a menina pula de alegria. No princípio de tudo são uns saltos não muito altos, usados em alguns momentos em que é melhor que ela deixe de ser pequena e fique mais representativa das expectativas da vaidade feminina.
Na verdade, já é tão vaidosa esta menina. Quer saltos altos, esmalte, saia justa, bijuterias iguais às da mãe. Às vezes é mais vaidosa que a mãe.
Deixando o consumo consumir nossa vida, tiramos da menina o direito de subir no salto da mãe e olhar-se, de fitar-se no espelho com admiração e imaginação. Concedemos, em nossa infinita alienação, o direito da menina de ter o seu salto alto.
Ela não precisa mais admirar a mãe, imaginar-se como a mãe, agora ela é a mãe. É imagem e semelhança, é a mãe melhorada e muito mais vaidosa, mais jovem, com maiores necessidades de consumo.
Com o salto a menina brinca menos, não pula corda ou joga bola, não corre, não é mais uma menina. De salto ela tem poderes de mulher, utiliza outros acessórios, bolsa, cinto, esmalte.
De salto ela precisa ter um comportamento adequado, projetado, limitado. Em cima do salto não tem mais espaço para a infância, para o brincar, tudo perde espaço para a vaidade e para imagem.
É tão difícil na frente da vitrine resistir aos apelos do calçado, da propaganda, da boiada, todo mundo usa, tem calçado número 23, para criança de dois anos.
Se a mãe não der a menina pode ficar traumatizada, é tão mais fácil permitir, afinal de contas o que é um inocente saltinho?
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