terça-feira, janeiro 16, 2007

Brinquedo de não brincar



Poderão manusear sozinhos, sem a interferência de ninguém. Solitários por horas, por dias, repetindo a mesma ação e tendo os mesmos resultados nas mesmas simulações.
Será um brinquedo que esgotará as possibilidades de relações com os outros, não permitirá acesso ou contato com o real.
Os pais ficarão tranqüilos, as crianças ficarão calmas e em casa, sem ruídos e amigos.
O corpo ficará reduzido aos olhos e às mãos. A boca poderá pronunciar murmúrios de alegria ao atingir o objetivo, ou de frustração por não passar para outra fase.
Importante: deve ser um brinquedo pensado por um adulto, com capacidade de pensar em cores, movimentos, ruídos que hipnotizem.
Deve ser um brinquedo que supostamente desafie, estimule a inteligência, onde a repetição de comandos em cenários variados, com a percepção de um tempo rápido onde tudo é facilmente obtido sem espera. As simulações podem ser salvas, para continuar depois como se pudéssemos segurar os momentos para finalizá-lo em circunstâncias idênticas.
Não deve permitir a utilização para outros fins, não pode ser um barquinho que vira uma casinha, uma boneca que vira mamãe, ou um galho seco que vira um dinossauro, ele deve exigir atenção e não imaginação.
Não poderá ser molhado, sujo ou misturado na caixa com os outros brinquedos.
Dependerá da energia elétrica, de fios, da frieza de uma sala, do controle de teclas.
A criança poderá desenvolver raciocínio, competitividade, lesão por esforço repetitivo.

Um comentário:

Rute Rodrigues disse...

Vida de não viver? Larisa, desejo que todos os pais e mães encontrem vida dentro de si para evitar que o brinquedo de não brincar não dure mais que 15 minutos semanal na vida de seus filhos. Estes dias pensei com tristeza nos meninos que só subiram em árvores virtuais e só conquistaram castelos mentais, e não tiveram nem amigos imaginários :( só joistick (nem sei se é ssim que grafa...)