sábado, agosto 25, 2007

Acústicos e Valvulados





As crianças presas em suas classes, nas suas celas-sala-de- aula, com suas mãos escreventes, seus ouvidos ouvintes, suas meia-bocas meio falantes, rebelaram-se.
Cansaram de ser meio gente, com um corpo apenas produtivo, capaz de copiar, mover-se em espaços de confinamento, de responder quando perguntadas. Quiseram mais do que preparar-se para uma vida que aconteceria quando a escola terminasse e começassem a trabalhar.
As crianças tornaram-se impossíveis de lidar, elas queriam o agora, não queriam mais esperar o tempo certo de viver, não queriam apenas trabalhar para se aposentar.
Elas queriam brincar, brincar, fora de espaços “pensados” para elas, fora do play-ground, da brinquedoteca, dos brinquedos prontos e pedagógicos. Queriam ser autoras de seus brinquedos e brincares. Muitos avisaram que isso aconteceria, no terreno subjetivo e poético da música, das artes, já sabiam.
A rebelião começou barulhenta, fez alarde e assustou. Mudar a escola, as salas, o espaço físico, a forma de produzir, impossível.
Adestrar, domesticar, submeter, acomodar, adequar, abafar, podar, com propostas pedagógicas, brinquedos novos, jogos virtuais, com meninos magos para dar a falsa sensação de que é possível para a criança protagonizar sua história fora dos muros de uma escola. E se nem assim eles ficassem tranqüilos, permanecessem hiperativos, agitados, a situação seria resolvida com medicalização. Tudo voltaria ao normal, as crianças seriam readaptadas, e o tempo é o melhor remédio, com o tempo eles cesceriam tornariam-se adultos, e isso normalizaria, tornariam todos eles iguais. O problema é que além de produzir, os adultos reproduzem-se, e novas crianças chegam ao mundo, com alguns traços da velha rebeldia infantil de seus pais. Os pais aflitos não entendem como podem as crianças de hoje não terem a paciência que eles tiveram quando eram crianças. Quando ficavam com as pernas dormentes de ficarem sentados muito tempo, a bexiga apertada, a fila para sair para o recreio. Os pais não percebem que seus filhos não gritam só por suas infâncias perdidas na falta de espaço físico e emocional, seus filhos agitam-se por não conseguirem conter dentro deles a ansiedade de seus pais. Seus pais aparentemente parte do rebanho submisso, guardam em suas almas a vontade, o desejo de brincar, de brincar livremente sem um resultado esperado, mensurado, o brincar comprometido apenas com o brincar.

Tirem o brincar físico, motor, sensível, tátil, sensorial, tirem a terra e a areia do pátio, das praças, tirem as árvores das ruas , substituam por brinquedos plásticos seguros, sem pontas, sem arestas, deixem as superfícies lisas, coloquem grama artificial, façam sapatos infantis com saltos, tentem continuar abafando, mesmo assim sempre existirão as crianças que hiper agitarão as estruturas pré estabelecidas do mundo adulto.
... “ pode me dizer fala agora de uma vez, pode me explicar o que eu tenho que fazer, só pra variar não consigo escutar, só para variar não me esforço pra entender, se eu quero me estragar, me estrago muito bem, se eu quero descansar, descanso o quê que tem.... se eu quero me quebrar,me quebro até cansar, se eu quero me mexer, me mexo até a hora de parar....ha,ha,ha,ha........, pode me dizer, me mostrar e escrever pode me avisar o que vai acontecer.......”,

a música entra para lembrar- que mesmo com todas contenções possíveis as crianças resistem, insistem ....

Um comentário:

Aline Silva Dexheimer disse...

Oi Larissa, tudo bem?
Hoje é o BlogDay.
Eu te citei lá no meu, pois gosto daqui.
http://blogdex-alinedex.blogspot.com/2007/08/blogday.html
Beijos,Aline